Degradação ambiental - como reverter esse quadro? - Maria Alice Schida Corrêa
- Maria Alice Schida Corrêa*
- 6 de jul. de 2016
- 5 min de leitura

Nas últimas décadas, ocorreram grandes e significativas mudanças no campo sócio-econômico e político, na cultura, na ciência e na tecnologia do mundo todo. Essas transformações tornaram possível o surgimento da era da informação e de novas formas de comunicação, mas também de inúmeros problemas sócio-ambientais. Diante desse quadro, vivemos uma época de grandes preocupações, uma vez que estamos diante de um quadro caótico: miséria, desemprego, violência, degradação ambiental tão grande, que já existe ameaça para a própria continuidade da vida no planeta.
Hoje, em poucos minutos, temos acesso às mais diversas informações sobre os problemas que afetam o mundo, mas não sabemos o que ocorre com o nosso vizinho que mora ao lado. Que paradoxo! A sociedade de consumo permitiu uma nova orientação comportamental e/ou cultural, revelando uma crise social decorrente da deterioração das relações interpessoais e das desigualdades sociais. As novas formas de comunicação e de consumo alteraram as formas de relacionamento entre as pessoas. Estes se tornaram superficiais, efêmeros, rápidos e descartáveis. Enfim, o progresso tecnológico e a liberdade política e de consumo não são sinônimos de desenvolvimento humano.
Quanto aos problemas ambientais, não basta apenas ter informações sobre o aquecimento global, o derretimento das calotas polares, por exemplo. Faz-se necessário realizar pequenas ações no cotidiano, mas também transcender as reflexões acerca das relações homem/homem, homem/sociedade mercadológica. Ou seja, ver o contexto e o global, nos quais as relações sociais, as relações afetivas e espirituais se manifestam, não apenas como um cenário onde o homem atua e explora a natureza como reserva de matéria prima e percebe o outro como concorrente.
Estamos cotidianamente envoltos por movimentos competitivos, em que seres humanos se isolam, excluindo o outro do convívio, das relações e se distanciando da natureza como um todo; sujeitos que se colocam fora do ambiente natural/cultural como se a estes não pertencessem.
Sendo assim, como reverter essa situação? Como provocar a reflexão, promover a discussão e uma ação transformadora de consciências no âmbito social? Qual é a nossa postura diante de tudo isso? Que concepções de homem, natureza, meio-ambiente perpassam as nossas relações?
Acredito que precisamos de uma nova maneira de entender a vida, a natureza, a sociedade e as suas múltiplas relações. Penso que também é papel de cada um de nós despertar a consciência de reciprocidade entre ser humano e o meio natural e cultural. Na prática, significa tentar estabelecer uma relação, não de poder do ser humano sobre a natureza, mas de inter-relação e interdependência, vivenciando os valores humanos (solidariedade, respeito, justiça, amorosidade, generosidade) e adotando uma conduta ética na sociedade como um todo.
Outro aspecto que gostaria de destacar é o Cuidado, porque este contempla o resgate da essência humana. O Cuidado consigo, com o outro como legítimo Outro, e do nosso planeta. Só cuidamos daquilo/daquele que nos sentimos responsáveis e também porque dele fazemos parte. Valorizando o Cuidado, resgatamos a preservação e o respeito à vida nas ações sociais e nos relacionamentos continuamente movidos pela emoção.
Assumir a nossa humanidade é afirmar a nossa amizade co-operária com o próprio ritmo da vida: seus riscos, suas perdas, sua provisoriedade. Quando essa amizade é esquecida, quando o diálogo e a troca são substituídos pelo projeto de dominação e controle, o homem se isola diante da natureza e diante dos outros homens. (Unger, 2001: 42)
A idéia de mudança de paradigma na visão de mundo deve começar na família e na escola, buscando a superação de determinados conceitos e preconceitos decorrente de uma visão de mundo fragmentada, linear e antropocêntrica. Isso requer um processo de autoformação e formação a partir de uma visão global, integrada e sistêmica.
Nesse cenário, reside o nosso desafio, que é tornar o ser humano mais humanizado, capaz de estabelecer relações saudáveis de respeito, diálogo com o outro, com as culturas e com a natureza. Mais do que isso, reaproximar o ser humano ao seu ambiente natural, social, histórico e cultural e dos valores humanos, éticos, estéticos, morais e espirituais.
Saliento que a natureza e a cultura não constituem dualidades excludentes; é necessário passar a enxergar a natureza na cultura e a cultura na natureza. E o ser humano como parte desse todo. Se há uma nova forma de ver o mundo, a cidadania a ser construída deve ser de outra ordem: uma nova cidadania, a cidadania planetária.
Há uma necessidade de pensar e repensar a complexidade dos fenômenos ambientais que afetam o planeta e que tem a ver com a forma como a humanidade vem-se relacionando com a natureza, com os outros seres vivos e entre si. Necessitamos renunciar ao automatismo de nossos hábitos e a segurança do que acreditamos já saber.
Diante de tudo isso, a educação é um valor extremamente importante. Educação não significa, apenas, adquirir conhecimentos, coligir e correlacionar fatos; é compreender o significado da vida como um todo. Educação é compreender a vida, é a busca de compreendermos a nós mesmos; e este é o princípio e o fim da educação do qual todos nós somos responsáveis.
Para finalizar este texto, gostaria de citar o filósofo e pensador contemporâneo francês, Edgar Morin (2003, 75): “Aquilo que porta o pior perigo traz também as melhores esperanças: é a própria mente humana, e é por isso que o problema da reforma do pensamento tornou-se vital”.
Meu desejo é que todos nós contribuíssemos para povoar o mundo de pessoas mais humanas, solidárias e de cidadãos participativos, para que possamos construir uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária, construindo juntos uma consciência de pertencimento – plural e complexo – ao Cosmo. E, para concretizar esse sonho, isso é só o começo. Cada um tem apenas que fazer a sua parte, revendo ações, repensando atitudes e realizando práticas, objetivando uma melhor qualidade de vida para as atuais e futuras gerações.
Pequenos gestos que podem fazer a diferença:
Respeitar e valorizar cada pessoa pelo que ela é.
Cultivar os valores humanos.
Fazer gestos de cortesia: ajudar e agradecer.
Encarar os conflitos com algo natural, mas que só podem ser solucionados através do diálogo.
Viver com espírito de cooperação no lugar da competição.
Partilhar mais ao invés de concentrar.
Respeitar as regras da sociedade, inclusive as leis do trânsito.
Rever os padrões de consumo. Comprar efetivamente quando é necessário.
Preservar a natureza, cuidando dos seres vivos em geral.
Usar materiais recicláveis.
Separar o lixo adequadamente.
Economizar água e energia elétrica.
Evitar o desperdício.
Engajar-se em trabalho voluntário, ajudando ONG’s e Instituições Sociais.
Reservar um tempo para desenvolver a sua espiritualidade.
Referências Bibliográficas MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 8ª ed. São Paulo: Corte; Brasília: UNESCO, 2003. UNGER, Nancy M. Da foz à nascente: o recado do rio. São Paulo: Cortez, 2001.
*Pedagoga especialista em Educação Ambiental, mestranda em Educação na linha de pesquisa Ensino e Educação de Professores na PUC-RS. Professora do Colégio João Paulo I e Diretora Pedagógica da DASP Consultoria em Administração e Educação
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